- Área: 7 m²
- Ano: 2016
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Fotografias:Rui Soares
Descrição enviada pela equipe de projeto. O que parece permanente poderá para sempre ser temporário.
O arquipélago dos Açores é em parte definido pela constante procura de um novo horizonte, seja esta procura ditada/estimulada pela necessidade ou curiosidade; pela sustentabilidade econômica ou pelo sentimento de clausura.
‘Two Manifolds’ pretende explorar esta condição insular, a relação bipolar entre o permanente e o temporário, o ir e o ficar. A vontade de nos elevarmos para podermos ver um pouco mais que seja deste aparente infinito que é o horizonte, esta difusa mas concreta linha que define uma periferia incerta.
A peça surge num dos locais mais periféricos de Ponta Delgada, a freguesia de Santa Clara. Embora seja uma zona desprivilegiada, esta freguesia é marcada pela sua importância na construção do Porto desta cidade, que hoje constitui uma das maiores portas de entrada e saída de bens e pessoas entre o arquipélago e o mundo.
Seria importante criar uma nova centralidade nesta periferia urbana e evidenciar a condição periférica que os Açores assumem no contexto europeu. ‘Two Manifolds’ cria assim um landmark, um ponto de paragem e observação, que liga o local ao seu universo próximo e à condição politico-geográfica dos açores numa espécie de cruzamento de diferentes vectores.
A peça distribui-se em dois níveis – um nível superior de observação e introspecção, outro inferior de descanso e permanência – e três direções predominantes que estabelecem relações com diferentes graus de proximidade ao local de implantação.
Cada um destes níveis possui materiais e características de resistência e temporalidade distintas, construídos através de processos de autoconstrução e colaboração com artesãos e voluntários locais.
Tendo em conta a localização desta construção – numa zona inóspita sujeita à violência do mar e do vento – o nível inferior consiste num conjunto de três bancos de betão, inspirados nos grandes tetrapods que protegem aquela zona do mar, que garantem carácter permanente à peça. Estes bancos sugerem uma nova centralidade e, devido ao seu caráter permanente, registam as intenções da peça caso as fortes tempestades incidam sobre aquele local.
O nível superior foi construído em madeira de criptoméria (ou Sugi, árvore endêmica do Japão também abundante na ilha de S.Miguel), com carácter temporário e de fácil desmontagem para armazenamento e manutenção.
Esta caixa tripartida em madeira, que remonta às caixas de transporte de mercadorias, assinala três direções intimamente ligadas ao contexto local e contexto geográfico do arquipélago: uma primeira direção, a de entrada, aponta para a freguesia a convida os seus habitantes à visita, à subida ao miradouro; uma segunda já balançada em direção ao mar encaminha o olhar para o Porto de Ponta Delgada, polo de entrada e saída da ilha; a terceira dirige-nos para a direção contrária do centro politico europeu e relembra-nos da condição politico-geográfica de do arquipélago açoreano, incentivando-nos a a expandir esta ultraperiferia com o nosso olhar.